domingo, 15 de dezembro de 2013

sumaré

cheguei à estação do metrô, com a mente dançando em meio a confusão de pensamentos sobre vários assuntos. esta época do ano conseguiu me dar vários nós. os acontecimentos ao longo do ano, as idas, as vindas, as despedidas, os reencontros... tudo isso gerou um enorme vórtex que tem sugado o melhor e o pior que existe em mim, me causando enjôos inexplicavelmente bons. a mescla de sensações que tenho experimentado não tem sido nociva, mas admito que alguns sentimentos que consegui reprimir ao longo de anos, voltaram à tona em poucas horas, e os motivos para isso são totalmente desconhecidos. eles surgiram. reapareceram. como luzes de uma decoração de natal. me senti como uma árvore, que, ao longo do ano, está sujeita as intempéries da natureza e que passa desapercebida apenas como um adereço sem importância. mas durante esta época, ela precisa estar adornada. de alguma forma, me sinto assim. ao longo do ano, me senti como parte de uma mobília empoeirada, que era mantida por comodidade. mas nesta época, estão tentando colocar algo que reluza dentro de mim, e essa sensação de estar sendo engolido por um furacão de emoções me assusta.
esfriei meu coração, sentei-me no banco da plataforma, e decidi que passaria as próximas horas me dando o direito de assistir a vida passar em forma de vários trens em sequência. alguns passavam lotados, alguns passavam vazios. do local onde estava sentado, tinha a visão para a avenida que atravessa a estação pelo lado de baixo, com vários carros em velocidade média desenhando o caos diário que se instaura em horários pré-determinados. mas naquela hora, havia algo belo naquilo. a avalanche de sentimentos me invadira novamente, porém desta vez determinando uma paz inabalável, que chegava a ser incômoda, por me causar tanto relaxamento em se tratando de uma vida que se atola de problemas e preocupações. vi o céu nublado, o sol relutando em se fazer presente a partir de poucos raios que incidiam sobre os inúmeros prédios que circundam aquela área, a brisa primaveril que insistia em zunir por entre as paredes de concreto que sustentavam aquela estação. o dia se arrastava. cheguei a ver borboletas sobrevoando as poucas flores que contrastavam com o cinza predominante, e mais uma vez, a melancolia se apoderou de mim.
as aproximações dos trens causavam um barulho ensurdecedor, e chegou a um ponto que notei que todos os trens que circulavam naquela linha já haviam passado por mim, tanto indo quanto voltando. haviam se passado quase 3 horas que eu estava ali. esta época me deixou, de alguma forma, com o interruptor desligado. era como se tudo o que eu fiz ao longo de um ano todo tivesse sido inútil, e que eu teria de recomeçar do zero. o recomeço não me assustava, mas me deprimia lembrar que todo o esforço que fiz foi em vão. meu olhar de encontro ao céu que brilhava apesar das nuvens deixou minha visão turva, meio amarelada, como se tudo não passasse de uma fotografia antiga. eu já não sabia como agir diante desse marasmo, mas decidi que deveria seguir a vida que me esperava. e assim o fiz: troquei de plataforma, e fingi ter pressa quando o trem se aproximou da plataforma quando eu ainda descia as escadas. passaram-se duas estações e eu saltei do trem, subi as escadas e andei pelas calçadas como se tivesse sido imergido numa água renovadora, apesar da minha visão ainda estar sépia. senti várias vontades naquele momento, mas era necessário fazer algo. juntei algumas moedas, comprei um copo de café, filei um cigarro de um senhor educado que aparentava ter pressa, e a vida prosseguiu seu caminho (a minha, pelo menos). a certeza era de que, apesar da minha vista estar monocromática, a certeza de que ela voltaria a ter cores era certa. e segui em frente.

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