segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

salvação

por que eu insisto nessa situação?
eu não consigo respirar
muito menos dormir ou sonhar
estou submerso numa densa confusão
como sair desta condição?

por que eu gosto dessa sensação?
eu até consigo me alegrar
e até consigo, com certo esforço, trabalhar
este desdobramento me afeta a visão
mas sigo firme na mesma direção

por que eu não encontro salvação?
se a minha vontade é me libertar,
eu necessito me renovar
mas aonde fica a tão desejada razão,
quando o assunto afeta o coração?

mundo

o mundo
tem se tornado tão imundo
que sinto que irei derreter
me sinto pesado como o chumbo
já me considero moribundo
sei que irei morrer

o mundo
tem me deixado tão imundo
isso tem me feito perecer
como o solo contaminado pelo chumbo
que se torna moribundo
nada mais irá florescer

o mundo
é imundo
o que iremos fazer?
o chumbo
te faz moribundo
você quer morrer?

domingo, 15 de dezembro de 2013

sumaré

cheguei à estação do metrô, com a mente dançando em meio a confusão de pensamentos sobre vários assuntos. esta época do ano conseguiu me dar vários nós. os acontecimentos ao longo do ano, as idas, as vindas, as despedidas, os reencontros... tudo isso gerou um enorme vórtex que tem sugado o melhor e o pior que existe em mim, me causando enjôos inexplicavelmente bons. a mescla de sensações que tenho experimentado não tem sido nociva, mas admito que alguns sentimentos que consegui reprimir ao longo de anos, voltaram à tona em poucas horas, e os motivos para isso são totalmente desconhecidos. eles surgiram. reapareceram. como luzes de uma decoração de natal. me senti como uma árvore, que, ao longo do ano, está sujeita as intempéries da natureza e que passa desapercebida apenas como um adereço sem importância. mas durante esta época, ela precisa estar adornada. de alguma forma, me sinto assim. ao longo do ano, me senti como parte de uma mobília empoeirada, que era mantida por comodidade. mas nesta época, estão tentando colocar algo que reluza dentro de mim, e essa sensação de estar sendo engolido por um furacão de emoções me assusta.
esfriei meu coração, sentei-me no banco da plataforma, e decidi que passaria as próximas horas me dando o direito de assistir a vida passar em forma de vários trens em sequência. alguns passavam lotados, alguns passavam vazios. do local onde estava sentado, tinha a visão para a avenida que atravessa a estação pelo lado de baixo, com vários carros em velocidade média desenhando o caos diário que se instaura em horários pré-determinados. mas naquela hora, havia algo belo naquilo. a avalanche de sentimentos me invadira novamente, porém desta vez determinando uma paz inabalável, que chegava a ser incômoda, por me causar tanto relaxamento em se tratando de uma vida que se atola de problemas e preocupações. vi o céu nublado, o sol relutando em se fazer presente a partir de poucos raios que incidiam sobre os inúmeros prédios que circundam aquela área, a brisa primaveril que insistia em zunir por entre as paredes de concreto que sustentavam aquela estação. o dia se arrastava. cheguei a ver borboletas sobrevoando as poucas flores que contrastavam com o cinza predominante, e mais uma vez, a melancolia se apoderou de mim.
as aproximações dos trens causavam um barulho ensurdecedor, e chegou a um ponto que notei que todos os trens que circulavam naquela linha já haviam passado por mim, tanto indo quanto voltando. haviam se passado quase 3 horas que eu estava ali. esta época me deixou, de alguma forma, com o interruptor desligado. era como se tudo o que eu fiz ao longo de um ano todo tivesse sido inútil, e que eu teria de recomeçar do zero. o recomeço não me assustava, mas me deprimia lembrar que todo o esforço que fiz foi em vão. meu olhar de encontro ao céu que brilhava apesar das nuvens deixou minha visão turva, meio amarelada, como se tudo não passasse de uma fotografia antiga. eu já não sabia como agir diante desse marasmo, mas decidi que deveria seguir a vida que me esperava. e assim o fiz: troquei de plataforma, e fingi ter pressa quando o trem se aproximou da plataforma quando eu ainda descia as escadas. passaram-se duas estações e eu saltei do trem, subi as escadas e andei pelas calçadas como se tivesse sido imergido numa água renovadora, apesar da minha visão ainda estar sépia. senti várias vontades naquele momento, mas era necessário fazer algo. juntei algumas moedas, comprei um copo de café, filei um cigarro de um senhor educado que aparentava ter pressa, e a vida prosseguiu seu caminho (a minha, pelo menos). a certeza era de que, apesar da minha vista estar monocromática, a certeza de que ela voltaria a ter cores era certa. e segui em frente.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

margaridas

a chuva cai insistentemente
o vento sopra displicentemente
e por essas se nota a temperatura do meu corpo,
me sinto quente.

a chuva cai extraordinariamente
me faz admirá-la como se eu fosse um demente
mas eu não me importo de ser ofendido de novo;
mostrarei meus dentes.

o vento passeia indecentemente
levanta os vestidos e desconcentra as mentes
entre um jardim de margaridas, me sinto solto,
não estou mais doente.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

ondas

eu sento à beira-mar,
apenas para ouvir as ondas a ecoar
e a meu ver,
prefiro ver você
e a sua voz a ressoar

e o rádio a chiar
sem conseguir pelo menos uma estação sintonizar,
ao entardecer,
prefiro ouvir você
e o lindo brilho do seu olhar

resolvo me espichar,
sentir as ondas do sol a me esquentar
mesmo sem merecer
prefiro sentir você
e a sua pele a me tocar

e volto a observar
as ondas a rolar
com o sol a se esconder,
sinto a falta de você
ao meu lado a me encantar.

xaxim

uma vida toda tentando. criando expectativas. esperando respostas. Thomas não aguentava mais aquela angústia da espera. ele mal dormira a noite passada, e com um esforço enorme, mantinha os olhos abertos aguardando algum sinal de contato dela. nunca se apaixonara por ninguém até então, e tudo era novo para ele, apesar de ter sofrido com a peripécias que a vida lhe pregou ao longo de sua existência. seu pai fora assassinado quando ainda tinha 2 anos de idade, e sua mãe perdera a memória após um acidente de carro. ele praticamente se criou sozinho (e com a atenta ajuda da simpática dona Vera, vizinha de longa data da casa onde Thomas mora desde sua tenra idade.
ao vê-lo pela janela da cozinha, com uma das expressões mais assustadoras que já vira em sua face (uma mistura de desespero com cansaço), e notou que algo não estava correndo bem. ela sempre soube que, de tempos em tempos, um sentimento de perda o tomava por completo, por se sentir incapaz de trazer sua mãe à realidade novamente, muito menos trazer seu pai de volta à vida. isso o deixava extremamente abalado, e era dona Vera quem se compadecia do garoto, que hoje em dia já era praticamente um homem, e vê-lo naquela expressão já conhecida a preocupou duplamente, pois por suas contas, o garoto já não tinha aqueles ataques há um bom tempo. cuidadosamente, entrou na casa, evitando movimentos bruscos, bateu na porta e aguardou Thomas atendê-la. ao abrir a porta, Thomas viu uma expressão amigável no rosto de Vera, e correu ao seu abraço, e despejou em seus braços o peso de seu corpo, como se estivesse procurando um porto seguro numa embarcação que veleja ao relento com seu casco quebrado, ameaçando naufragar. Vera notou que ele precisava de um ombro amigo, e foi o que fez: arrastou como pode o rapaz para o lado de dentro de casa, o deitou no sofá, foi até a cozinha, pegou um copo d'água e voltou para a sala, oferecendo o líquido diretamente em sua boca. mas seu corpo não respondia aos sinais básicos, e Vera concluiu que ele poderia estar até mesmo sem comer há alguns dias. a situação ficou um pouco mais tensa quando Vera checou seu pulso, e percebeu que ele estava fraco, com a pulsação quase nula. ela ficou mais assustada ainda. ela resolveu dar um banho frio no rapaz, pra ver se surtia algum efeito. fazia muito calor nesse dia, e ela concluiu que talvez o rapaz estivesse assim por não suportar bem dias muito quentes. após alguns minutos, o rapaz acordou novamente, e Vera sugeriu que o garoto fosse à um hospital, para tentar entender o que estava acontecendo, e Thomas compreendeu a preocupação e acenou positivamente com a cabeça.
vendo tudo da janela, Yasmin, que mora em frente as duas casas, espiava tudo do canto de uma das janelas da casa de Thomas. ela sempre fora apaixonada pelo rapaz, que não tinha tempo para a moça, por causa de suas dificuldades. mas ela não entendia isso dessa forma, e deixou sua paixonite se transformar em obsessão. e vendo a cena, se aliviou por Vera não ter descoberto o envenenamento que ela causou nele, suspeitando que ele estivesse de namorico com uma moça de outro estado.