sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

rodoviária

enquanto eu espero, os outros vem e vão
existem coisas que eu já vejo e que outros ainda verão
existem dias que o sol aparece, mesmo sem ser verão
enquanto alguns dias meus são vividos em vão

enquanto eu espero, os outros vem e vão
e durante isso, eu observo e aguardo minha vez
ouço ao fundo pessoas conversando em inglês
e espero minha amada chegar ainda este mês

enquanto eu espero, os outros vem e vão
uns com tristeza, outros com alegria
uns durante a noite e outros durante o dia
e alguns numa mistura estranha que contagia

mas eu continuo esperando, ainda existe emoção
ainda existe sentimento em ver essa movimentação

brás

Marco tomou o rumo de casa. Ele foi até alguns pontos comerciais para realizar algumas compras para sua mãe, que estava adoecida. Ele estava com algumas sacolas ecologicamente corretas. Marco se faz muito radical quando o assunto é preservação ambiental. Ele é facilmente confundido com um daqueles naturistas que abordam os pedestres pela cidade; ele tem cabelo dreadlook, usa roupas largas, sempre com estampas brancas ou floridas, quase sempre está usando sua papete "da sorte", e não confia muito no capitalismo, apesar de não ver solução mais eficiente para o mundo atual do que permanecer na situação financeira atual. Marco tem uma calma invejável, quase nunca se exalta (mesmo quando têm motivos suficientes para perder a calma). Ele julga desnecessário o descontrole. Outras pessoas tem a facilidade de se alterar, e ele gosta de se preservar calmo e sereno. Marco mora em uma cidade da grande São Paulo com a mãe e com duas irmãs. Trabalha e ajuda a sustentar a família desde os 15 anos (hoje ele tem 25 anos).
Marco escolheu o local mais vazio da plataforma para aguardar o trem que ainda não se aproximava, e sacou de seu bolso seu fone de ouvido enrolado. Tirou o player de seu bolso, e começou a ouvir a música que não foi ouvida por completa antes de desligar o artefato. De longe avistou o trem fazendo manobras e chegando próximo da plataforma a qual esperava. Ele morava em uma cidade muito afastada da cidade grande, e gostava de contar as estações e observar a circulação alheia entre os trens e as plataformas às quais ele percorria. Ele contava mentalmente, com um olhar cerrado e distante:

"Estação 1: Todos entraram no trem, alguns mais desesperados, outros (como eu), mais tranqüilos. Me encostei numa das extremidades do trem, e estou aguardando a viagem começar".

"Estação 2: O trem demorou um pouco para chegar à segunda estação, devido as muitas trocas de via que o trem precisa pegar. Mas essa estação não é tão agitada assim, só embarcam alguns vendedores ambulantes e algumas senhoras desesperadas pelos assentos especiais".

"Estação 3: Esta estação já é um pouco mais agitada, pois faz conexão com outra linha com maior circulação de passageiros. Nesta estação sempre há esbarrões, olhares tortos, e em alguns dias, alguns palavrões dali e outros de acolá. Mas a estação até que é bem bonita".

Marco continuou pensando à sua forma, observando os movimentos, os olhares, os sorrisos, as feições de tristeza, as pessoas gritando aos celulares.. Marco até gostava de tudo aquilo, ele sentia antes do que tudo, a vida acontecendo e ele participando dela.
O trem chegava a penúltima estação, e ele continuava a pensar nas estações no seu jeito 'diferente'.

"Estação 13: A maioria das pessoas desceu aqui. O trem esvazia como num passe de mágica, enquanto o trem solta um apito, quase igual a de uma pessoa que se sente 'cansada', pedindo por descanço. Oh, veja aquela senhora..."

Marco viu uma senhora que havia tido uma queda, bem na região das portas do trem. O trem apitou e prendeu a perna da indefesa senhora, enquanto as pessoas mais próximas se mobilizavam para evitar que a senhora tivesse maiores ferimentos. Marco era um deles. Após um pequeno estardalhaço e muitos gritos de indignação, o trem teve as portas abertas e a senhora foi 'salva' pelos passageiros. Enquanto a senhora caminhava com certa dificuldade para fora da estação, Marco a observava de longe, e ainda viu a senhora ser assaltada por dois garotos, antes que seu trem entrasse pelas árvores que dividiam as cidades das últimas estações da linha do trem. Ele se sentiu extremamente incapaz. Mas chegou são e salvo em casa, com as compras da mãe, e então, mais um dia se foi.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

mosteiro

minhas atitudes estão mudando
mas eu não deixarei você sentir medo
minha mente está evoluindo
por isso irei acalmar teu desespero

algumas coisas nunca mudam, apesar do esforço
mas lutar pelo teu sorriso é algo que dá gosto

estou correndo para me proteger da chuva,
me abrigo sob o toldo de um mosteiro
os olhares são turvos e estranhos
mas basta tua voz para me fazer sentir inteiro

algumas coisas sempre mudam, apesar da tradição
mas aprovo a mudança se ela trouxer você ao meu coração.