Marco escolheu o local mais vazio da plataforma para aguardar o trem que ainda não se aproximava, e sacou de seu bolso seu fone de ouvido enrolado. Tirou o player de seu bolso, e começou a ouvir a música que não foi ouvida por completa antes de desligar o artefato. De longe avistou o trem fazendo manobras e chegando próximo da plataforma a qual esperava. Ele morava em uma cidade muito afastada da cidade grande, e gostava de contar as estações e observar a circulação alheia entre os trens e as plataformas às quais ele percorria. Ele contava mentalmente, com um olhar cerrado e distante:
"Estação 1: Todos entraram no trem, alguns mais desesperados, outros (como eu), mais tranqüilos. Me encostei numa das extremidades do trem, e estou aguardando a viagem começar".
"Estação 2: O trem demorou um pouco para chegar à segunda estação, devido as muitas trocas de via que o trem precisa pegar. Mas essa estação não é tão agitada assim, só embarcam alguns vendedores ambulantes e algumas senhoras desesperadas pelos assentos especiais".
"Estação 3: Esta estação já é um pouco mais agitada, pois faz conexão com outra linha com maior circulação de passageiros. Nesta estação sempre há esbarrões, olhares tortos, e em alguns dias, alguns palavrões dali e outros de acolá. Mas a estação até que é bem bonita".
Marco continuou pensando à sua forma, observando os movimentos, os olhares, os sorrisos, as feições de tristeza, as pessoas gritando aos celulares.. Marco até gostava de tudo aquilo, ele sentia antes do que tudo, a vida acontecendo e ele participando dela.
O trem chegava a penúltima estação, e ele continuava a pensar nas estações no seu jeito 'diferente'.
"Estação 13: A maioria das pessoas desceu aqui. O trem esvazia como num passe de mágica, enquanto o trem solta um apito, quase igual a de uma pessoa que se sente 'cansada', pedindo por descanço. Oh, veja aquela senhora..."
"Estação 13: A maioria das pessoas desceu aqui. O trem esvazia como num passe de mágica, enquanto o trem solta um apito, quase igual a de uma pessoa que se sente 'cansada', pedindo por descanço. Oh, veja aquela senhora..."
Marco viu uma senhora que havia tido uma queda, bem na região das portas do trem. O trem apitou e prendeu a perna da indefesa senhora, enquanto as pessoas mais próximas se mobilizavam para evitar que a senhora tivesse maiores ferimentos. Marco era um deles. Após um pequeno estardalhaço e muitos gritos de indignação, o trem teve as portas abertas e a senhora foi 'salva' pelos passageiros. Enquanto a senhora caminhava com certa dificuldade para fora da estação, Marco a observava de longe, e ainda viu a senhora ser assaltada por dois garotos, antes que seu trem entrasse pelas árvores que dividiam as cidades das últimas estações da linha do trem. Ele se sentiu extremamente incapaz. Mas chegou são e salvo em casa, com as compras da mãe, e então, mais um dia se foi.
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